Entrevistado perde a razão, expulsa jornalista e "agride" audiência
Durante uma entrevista, por mais dura que possa parecer, a razão e o bom senso jamais devem sair de cena.
Não faz muito tempo, me encontrava numa reunião de apresentação de credenciais da agência quando fui surpreendido pelo telefonema de um cliente irado que acabara de “expulsar” de sua sala um jornalista que, segundo ele, abusou da agressividade em seus questionamentos durante a entrevista. “Falta de educação tem limites! Com esse sujeito não falo nunca mais”, determinou.
Ainda no caminho de volta a agência, liguei para esse cliente para saber com mais detalhes o ocorrido. Agora, mais calmo, se desculpou por seu destempero e telefonema fora de hora. Contou-me que o jornalista chegou para entrevista aparentemente irritado e que, logo após o bom dia, disparou perguntas e comentários num tom de voz alguns decibéis acima do educado. “Minha paciência se esgotou quando me acusou de falta de transparência nas respostas”, explicou o executivo.
Na seqüência, liguei para o jornalista, profissional honesto, experiente e muito, muito agressivo. Porém, jamais mal educado. Por tudo isso, estranhei o ocorrido. O jornalista me atendeu brincando: “O cara é mole, não gosta de perguntas duras”. Retruquei dizendo que não era bem essa a história que me haviam passado e que o caso era sério. Afinal o cliente era diretor de uma empresa reconhecidamente séria, ética e profissional e ele, um jornalista respeitado de um veículo de altíssima credibilidade. Embora ambos vivessem um sem o outro, empresa e veículo, quem perderia com essa disputa tola era o mercado. Agendei um encontro de goodwill entre os dois para reatar o relacionamento. Aceitaram, mas me pediram um tempo.
Dias depois voltei a falar com o cliente a respeito do assunto. Disse-lhe que o ocorrido me causou profunda estranheza, pois é um porta-voz experimentado. Lembramos juntos do Media Training, e de um chat que orienta o porta-voz sobre como agir em situações de alta tensão com o jornalista. “Você se envolveu emocionalmente com o jornalista e esqueceu-se da audiência”, recordei. Ele concordou.
Em situações semelhantes, o entrevistado jamais deve se deixar levar pela emoção, mesmo que a postura do jornalista seja agressiva e as vezes ultrapasse os limites da educação. O entrevistado deve considerar a audiência, que é quem vai receber a informação. O jornalista é somente um canal que precisa captar com clareza e retransmitir tal e qual. No caso, o cliente jamais deveria ter reagido. Depois de duas ou três estocadas, percebendo a ausência de efeitos, o jornalista, não tenho a menor dúvida, diminuiria rapidamente a sua agressividade e a entrevista correria em seu leito normal. Em situações desse tipo, existe somente um perdedor: a audiência.
Cliente e jornalista realizaram o tal almoço. Riram muito do ocorrido e voltaram a se encontrar profissionalmente outras vezes, embora o relacionamento jamais voltasse a ser o mesmo.