JORNALISTAS GOSTAM DE HISTÓRIAS VERDADEIRAS E BEM CONTADAS
Eles querem ouvir sempre uma boa história, de alguém que saiba contá-la e a conheça em detalhes. Aliás, conhecer a própria história é fundamental para uma boa performance nos contatos com a mídia.
Um dos grandes clientes da agência contratou, certa vez, um jornalista experiente e famoso para ser o seu profissional responsável pela sua área de comunicação. Dentre as funções do cargo que teria que desempenhar estava a de porta-voz da empresa para todos os temas - principalmente os mais delicados - e públicos. A contratação, sem dúvida de boa qualidade, foi recebida pela diretoria como a solução para todos os problemas de comunicação da empresa. Finalmente tinham encontrado o seu "ovo de Colombo".
O jornalista, de reconhecida competência, impressionava pela qualidade do trabalho. Em parceira com Recursos Humanos, melhorou consideravelmente a comunicação interna; com o Financeiro, fez finalmente o "povão" entender a tal distribuição de lucros no final do ano; com a Segurança e Área Social estabeleceu um tipo de relacionamento com a comunidade jamais visto; com a imprensa nem se fala, era o seu "metier". Tudo perfeito!
Belo dia um diretor da empresa me liga e pede um tempo para falar pessoalmente e em particular. Fico preocupado, pergunto se é algum problema com o atendimento da agência ou coisa parecida; ele imediatamente retira essa dúvida da frente e antecipa, impondo-me segredo de estado: "é sobre o nosso jornalista", revela.
Não escondi minha surpresa. Quis saber o que havia ocorrido, pois, na semana anterior, quando estive na empresa para uma reunião de rotina, até me "constrangeram" com tantos elogios ao colega. "E ele prossegue merecedor de todos os elogios, realmente é um profissional na acepção da palavra, mas tem um ligeiro problema que você, inclusive, nos havia adiantado no 'Mídia Training': a imprensa não quer entrevistá-lo", revelou o tal diretor.
De fato, sempre alerto durante os Media Trainings que a imprensa não gosta de entrevistar assessores de imprensa que, como a maioria dos jornalistas, é um generalista. Eles dificilmente descem às profundezas dos detalhes, aqueles que tornam as matérias jornalísticas mais interessantes e saborosas. "É justamente isso que está acontecendo", lembrou o diretor, acrescentando que a mídia, com toda a delicadeza possível, passa sempre por cima desse profissional e segue buscando a opinião dos diretores, que de fato conhecem a fundo a história da empresa, do negócio, do mercado, da concorrência. Enfim, conhecem o seu metier. "Voltamos ao status anterior", concluiu, precipitadamente, esse diretor.
Mostro ao cliente que a empresa não deu um passo atrás. Contratou um ótimo profissional que está realizando um excelente trabalho interno e externo, e até mesmo com a imprensa. O problema é a qualidade da informação, que ele não possui e que é essencial para o resultado de uma boa entrevista. O jornalista, quando marca uma entrevista, quer ouvir uma boa história e, mais que isso, de alguém que a conheça e saiba contá-la. Conhecer a própria história é fundamental para um bom desempenho nos contatos com a mídia.
Sobre o jornalista, ainda passou um bom tempo na empresa fazendo competentemente o seu trabalho. Deixou apenas de interpretar o papel de porta-voz, que os diretores, novamente treinados, assumiram de vez. Depois foi para os Estados Unidos aperfeiçoar o seu inglês; no retorno, foi convidado e aceitou ser repórter de um grande jornal. Hoje é um de seus editores.