Antes de entrar em cena, é sempre bom e aconselhável
investir meia hora no ensaio
Mesmo os porta-vozes habituados no contato com a mídia podem, também, tropeçar no excesso de confiança.
Outro dia, num desses eventos corporativos que sempre acontece na cidade, encontrei um alto executivo de uma multinacional importante, ex-cliente, mas ainda um bom companheiro de happy hour. Como de praxe, nesses encontros cada vez mais espaçados pela falta de tempo de ambos, falamos de tudo um pouco: política, futebol, economia e imprensa. Ele adora polemizar com as “falhas” que detecta no trabalho dos jornalistas. Vive me atirando “cacos” que os coleguinhas, por inexperiência, falta de atenção ou preguiça, deixam expostos pelo caminho.
Este ex-cliente é porta-voz da empresa em que trabalha. É fonte confiável dos jornalistas e, por isso, sempre procurado para opinar sobre isso ou aquilo. Conhece e aplica bem as regras do “jogo”. É figurinha fácil nos “jornalões”, telejornais e veículos especializados. Ás vezes se finge de enfastiado com o assédio, mas gosta de ver a sua foto estampada na mídia.
Porém, nesse nosso último encontro, ele se revelou verdadeiramente infeliz com a sua performance durante uma entrevista. Disse que titubeou nas respostas, que o tema era ainda áspero, sobre um novo negócio que a empresa havia recém adquirido. Pela primeira vez desde que o conheço, vi esse alto executivo desinflar o seu ego e descer do seu pedestal para reconhecer, humildemente, que não tinha se preparado devidamente para o encontro com a imprensa. Deixou de fazer a sua lição de casa e, por essa razão, foi advertido por seus superiores imediatos aqui do Brasil e pelos assemelhados da matriz, dos Estados Unidos.
Confesso que fiquei surpreso e, por algumas frações de segundos, sem saber exatamente o que falar. Lembrei-lhe do “Media Training” que havia aplicado à diretoria da sua empresa, de todos os passos que se deve dar para se chegar ao bom desempenho. Naquele mesmo instante, na mesa do bar, onde ele sorvia seu whisky com gelo, revisamos todos esses passos. De repente, ele percebeu onde “trançou” os pés: “Não ensaiei! Deveria ter me exposto á perguntas dos colegas e, juntos, avaliado as melhores respostas. Excesso de confiança, coisa de veterano!”, amenizou.
De fato, esse alto executivo, ex-cliente, cometeu o erro comum de todos aqueles que se acham “rodados” e, por isso, conhecedores de todas as “nuances da pista”. É inegável que a experiência ajuda, e muito, mas jamais se pode desprezar o treinamento, ainda mais quando se vai expor um assunto sobre o qual não se tem inteiro domínio. Não lhe custaria mais do que meia hora de seu tempo, convidar dois ou três colegas e responder as suas questões sobre o tema. Se fosse possível gravá-las, melhor ainda, pois assim as respostas poderiam ser avaliadas em suas minúcias e corrigidas a tempo, se necessário.
Não tenho dúvidas de que esse meu ex-cliente, ciente de sua responsabilidade como porta-voz e do papel estratégico que representa para a empresa, jamais concederá novas entrevistas sem antes passar os olhos nas “dicas” básicas do Media Training, como ensaiar antes de entrar em cena.